domingo, 24 de maio de 2009

118 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

 "Meu Jardim" Foto LuisD.

AUGUSTO DOS ANJOS
Augusto Carvalho Rodrigues dos Anjos
Nasceu a 20 de abril de 1884, signo de áries,
no Engenho Pau D'Arco, Município de Cruz do
Espirito Santo, Estado da Paraíba, Brasil.
Poeta, jornalista, professor . . .
Na "Faculdade de Direito" do Recife, Pernambuco, Brasil, doutorou-se
em Direito. Professor de "Geografia, Corografia e
Cosmografia", no "Ginásio Nacional"
(Colégio D. Pedro II, atual).Escreveu para város jornais . . .
Estilo Simbolismo
Faleceu 12 de novembro de 1914, Leopoldina, 
Estado de Minas Gerais, Brasil..
*
CANTOePALAVRAS
Eu, 1912; Eu e Outras Poesias(após-morte, Órris Soares), 1920. . .
*
I
Quando, à noite, o Infinito se levanta
À luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha táctil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmo nos meus dedos!
-
Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!
-
Penetro, agarro, asculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinistésimo e o Indeterminado. . .
-
Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com minha plenitude!
**
AUGUSTO DOS ANJOS
"Ao Luar"
*
II
-As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho. . .
É preciso cortá-la, pois meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
-
- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!!
Deus pôs almas nos cedros. . . no junquilho. . .
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma!. . .
-
- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
-
Caindo aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
*
AUGUSTO DOS ANJOS
"A Árvore da Serra"
*
III
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma grita?!
-
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e, depois, quer e executa!
-
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica . . .
-
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!
*
AUGUSTO DOS ANJOS
" A Ideia "
Eu
*
IV
Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!
-
Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldade que rasgou a farda
No desespero do último momento!
-
Tenta chorar, e os olhos sente enxutos! . . .
É como paralítico que, à mingua
Da própria voz, e, na, que ardente o lavra.
-
Febre de, em vão, falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!
*
AUGUSTO DOS ANJOS
"O Martírio do Artista"
Eu
*
V
Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos,
O choro da Energia abandonada!
-
É a dor da Força desaproveitada,
- O cantochão dos dinamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
Jazem ainda na estática do Nada!
-
É o soluço da forma ainda imprecisa . . .
Da transcendência que se não realiza . . .
Da luz que não chegou a ser lampejo . . .
-
E é em suma, o subconsciente aí formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!
*
AUGUSTO DOS ANJOS
"O Lamento das Coisas"
Outras Poesias


ARAUJO FIGUEIREDO
Nasceu em 1865, Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil.
Poeta...
Faleceu em 1927, Florianópolis, Sta. Catarina, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
....................................
*
Olhos, que sois os fúlgidos riachos
dos sonhos, das quimeras, dos encantos,
e dais vinhos de vinhas de áureos cachos
para alucinamentos e quebrantos...
-
Olhos, que sois os sedutores fachos
da luz do amor que se desfaz em mantos...
Olhos, que, quando merencórios, baixos,
lavam-se, gêmeos, de piedosos prantos...
-
Dizei-me, riachos de emotivos vinhos,
se os vossos meigos, dúlcidos carinhos
algum dia terão de andar no etéreo?
-
Ou terão de acabar, sinistramente,
em dois buracos de caveira algente
na atra desolação do cemitério.
*
Araujo Figueiredo
Soneto I
"Nos Astros ou no Pó

GUIMARÃES PASSOS
Sebastião Cícero de Guimarães Passos
Nasceu em 1867, Maceió, Estado de Alagoas, Brasil.
Poeta...
Problemas políticos
exilado em Buenos Aires, Argentina, 1893.
Um dos primeiros da "Academia Brasileira de Letras".
Faleceu em 1909, Paris, França.
*
CANTOePALAVRAS
Versos de um simples; Pimentões...
-
Sem aos outros mentir, vivi meus dias
desditosos por dias bons tomando,
das pessoas alegres me afastando
e rindo às outras mais do que eu sombrias.
-
Enganava-me assim, não me enganando;
fiz dos passados males alegrias
do meu presente e das melancolias
sempre gozos futuros fui tirando.
-
Sem ser amado, fui feliz amante;
imaginei-me bom, culpado sendo;
e se chorava, ria ao mesmo instante.
-
E tanto tempo fui assim vivendo,
de enganar-me tornei-me tão constante,
que hoje nem creio no que estou dizendo
*
Guimarães Passos
"Nihil"

ADELINO FONTOURA
Nasceu em 1859, Axixá, MA, Brasil.
Poeta...
Faleceu em 1884, Lisboa, Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
....................................
*
É tão divina a angélica aparência
e a graça que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo da inocência
nessa criança imaculada e bela.
-
Peregrina do céu, pálida estrela,
exilada da etérea transparência,
sua origem não pode ser aquela
da nossa triste e mísera existência.
-
Tem a celeste e ingênua formosura
e a luminosa auréola sacrossanta
de uma visão do céu, cândida e pura.
-
E quando os olhos para o céu levanta,
inundados de mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.
*
Adelino Fontoura
"Celeste

LAURINDO RABELO
Laurindo José da Silva Rabelo
"Poeta Lagartixa"
Nasceu em 1826 Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta...
Patrono da "Academia Brasileira de Letras".
Faleceu em 1864.
*
CANTOePALAVRAS
Trovas e Poesias...
*
Deus pede estrita a conta de meu tempo,
É forçoso, do tempo já dar conta;
Mas como dar, em tempo, tanta conta,
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?
-
Para ter minha conta feita a tempo
Dado me foi bem tempo e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta;
Quero hoje fazer conta e falta tempo.
-
Ó vós que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis esse tempo em passatempo
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.
-
mas oh! Se os que contam com seu tempo
fizessem desse tempo alguma conta,
Não choravam como eu, o não ter tempo.
*
Laurindo Rabelo
"Conta e Tempo"

GONÇALVES DIAS
António Gonçalves Dias
Nasceu a 10 de agosto de 1823, signo de leão,
Caxias, Estado de Maranhão, Brasil.
Integrou a primeira parte da geração de poetas do Romantismo.
Filho de português e mãe indígena mestiça, estudou Direito na
Universidade de Coimbra, 1838. . .


Patrono da "Academia Brasileira de Letras"
Estilo Romântico.
Navio naufragou "Ville de Boulogne", (faleceu quando voltava para o Brasil)
Faleceu a 03 de novembro de 1864, no mar de Guimarães, Maranhão, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Primeiros Cantos, 1846; Leonor de Mendonça (teatro), 1847;
Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão, 1848;
Últimos Cantos, 1851; Os Timbiras, 1857;
Dicionário da Língua Tupi, 1858; Beatriz Cenci; Boabdil; Patkul. . .
*

*
Seus olhos tão negros, tão puros, tão belos, tão puros, de vivo luzir,
estrelas incertas, que as águas dormentes do mar vão ferir;
-
seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, têm meiga expressão,
mais doce que a brisa, - mais doce que a frauta quebrando a soidão.
-
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, de vivo luzir,
são meigos infantes, gentis, engraçados brincando a sorrir.
-
São meigos infantes, brincando, saltando em jogo infantil,
inquietos, travessos; - causando tormento,
com beijos nos pagam a dor de um momento, com modo gentil.
-
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são;
às vezes luzindo, serenos, tranquilos, às vezes vulcão!
-
Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco, tão frouxo brilhar,
que a mim me parece que o ar lhes  falece,
e os olhos tão meigos, que o pranto umedece, me fazem chorar.
-
Assim lindo infante, que dorme tranquilo, desperta a chorar;
e mudo e sisudo, cismando mil coisas, não pensa - a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante, às vezes do céu
cai doce harmonia duma harpa celeste,
um vago desejo; e a mente se veste de pranto co'um véu.
-
Quer sejam saudades, quer sejam desejos da pátria melhor;
eu amo seus olhos que choram sem causa um pranto sem dor.
-
eu amo seus olhos tão negros, tão puros, de vivo fulgor;
seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
que falam de amores com tanta poesia, com tanto pudor,
-
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, assim é que são;
eu amo esses olhos que fala de amores com tanta paixão.
*
Gonçalves Dias
"Seus Olhos"
( Mais Poemas . . . "Negras Capas...Poetas de Coimbra".

PEDRO DE ALCÂNTARA
D. PEDRO II
Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador
Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel 
Gabriel Rafael Gonzaga.
Nasceu em 02 de Dezembro de 1825, Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, Imperador do Brasil, filho de D. Pedro I e D. Leopoldina.
Coroado a 18 de Julho de 1841...
Com a Proclamação da República, foi destituído do poder e foi asilado para a Europa, primeiro para Portugal e depois França...
Faleceu em 05 de Dezembro de 1891, Paris, França.
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CANTOePALAVRAS
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-
Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que seja e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade
Quando a dois passos só estou da morte!
-
Do pêgo das paixões minha alma forte
Conhece a fundo a triste realidade
Pois se agora nos dá felicidade
Amanhã tira o bem, que nos conforte.
-
Mas a dor que excrucia, a que maltrata,
A dor cruel que o animo deplora
que fere o coração e quase o mata,
-
É ver da mão fugir à extrema hora
A mesma boca lisonjeira e ingrata
Que tantos beijos nela pôs outrora!
*
Pedro de Alcântara
"Soneto"

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