sábado, 23 de maio de 2009

119 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

CAMILO PESSANHA
Camilo d'Almeida Pessanha
Nasceu em 07 de setembro de 1867, Coimbra, Portugal.
Filho de capa negra e uma tricana.
Estudou Direito, na Universidade de Coimbra,
Advogado em Macau, para onde viajou e foi professor de Filosofia
Elementar , no Liceu de Macau. . .
O melhor poeta simbolista português.
Estilo Simbolista.
Faleceu em 01 de Março de 1926, Macau.
*
CANTOePALAVRAS
Clepsidra (nome de um relógio d'água), 1944;
Moisés. . .
*
I
Chorai arcadas
Do Violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo. . .

De que esvoaçam,
Brancos, os arcos. . .
Por baixo passam,
Se despedaçam,
Norio, os barcos.

Fundas, soluçam
Caudais de chôro. . .
Que ruínas,(ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!. . .

Trêmulos astros. . .
Soidões lacustres. . .
- Lemes e mastros. . .
E os alabastros
Dos balaústres!

Urnas quebradas!
Blocos de gelo. . .
- Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do Violoncelo.
*
CAMILO PESSANHA
"O Violoncelo"
*
II
Passou o outono já, já torna o frio . . .
-Outono do seu riso magoado.
Álgido inverno! Oblíquo o Sol, gelado . . .
- O Sol, e as águas límpidas do rio.
-
Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?
-
Ficai, cabelos dela, flutuando,
E, debaixo das águas fugidias,
Os seus olhos abertos e cismando . . .
-
Onde ides a correr, melancolias?
- E, refractadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias . . .
*
CAMILO PESSANHA
"Soneto"
*
III
Há no ambiente um murmúrio de queixume
De desejos de amor, d'ais compridos...
Uma ternura esparsa de balidos
Sente-se esmorecer como um perfume.
-
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço
Tem delíquios de gozo e de cansaço.
Nervosos, femininos, delicados.
-
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
-
As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.
*
CAMILO PESSANHA
"Crepuscular"
*
IV
Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, por que não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais!...
-
Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silene de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
- Por que ides sem mim, não me levais?
-
Sem vós o que são os meus olhos abertos?
- O espelho inútil, meus olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos...
-
Fica sequer, sombra das minhas mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
- Estranha sombra em movimentos vãos.
*
CAMILO PESSANHA
"Soneto"
*
(Mais Poemas . . . " Negras Capas... Poetas de Coimbra" pág. 185).

JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE
Nasceu em 1943, Bombarral, Portugal
Poeta, Professor universitário...
*
CANTOePALAVRAS
Sob sobre Voz, 1971; Para outro Texto, 1972; Porto Batel, 1972;
Turvos Dizeres, 1973; Alguns Círculos, 1975; Vinte e nove Poemas, 1978;
Actus Tragicus, 1980; O Roubador de Água, 1981... 
*
I
Esta especie de noite
verão onde registro impressões dilúvios
pestes mudanças aporísticas no campo do saber.
Os gigantes são a cor do fogo.
"Vosso de todo coração" assim termina a carta.
Incêndios pelas terras
ferido pelos cimos do verão
retém a noite
uma voz contra os fatos e os estados
incalculáveis esforços; respondem do sonho.
-
Um homem caminha nesta especie de noite.
Escreve cartas. Marinheiro destacado para o meu
quintal. Está ao lado das sardinheiras preparar-
se para fazer suspensões nos ferros do baloiço.
O uso simples de uma carta.
O arranhar do aparo a tinta verde sob o azul da 
noite
por onde passam as folhas do verão.
-
Não sei de que servem encontros nos cafés.
"Depois não me digas que não trato de ti"
Eu levo para longe,
inocente de passado,
o que acredita ao longo deste livro
nos dias de verão.
-
Acrescentava os modos da galénica figura
Barbari, Calentes, Dibatis, Fespano,
Friserom.
porque as vogais tem a vantagem de designar
modos legítimos.
Sobre um tronco de árvore a ave e não o 
sonho
verão não me lembras na memória que nesta só verdade
afasto e levo.
-
a noite a tua carta move como poucos verões
já o fizeram ao sol da esplanada
sorriem mais sorriem nada
invocam a alegria o grande público.
Cum vero reversus esset.
Fiquemos por aqui.
Pela parte do demônio.
*
JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE
" O Vento da Noite"
O Roubado de Água

EUGÉNIO DE ANDRADE
José Fontinhas
Nasceu a 19 de janeiro de 1923, signo de capricórnio,
em Póvoa de Atalaia, perto da cidade de Fundão
Província de Beira Baixa, Portugal.
Poeta, morou por algum tempo em Coimbra,1943,
era amigo de Miguel Torga.
Doutor "Honoris-Causa", Universidade do Porto" 2005.
Homenagens:
"Prémio Associação Internacional de Críticos
Literários", 1986;
"Prémio D.Dinis", 1988;
"Grande Prémio de Poesia da Associação
Portuguesa de Escritores",1989;
Prémio Camões, 2001. . .
Seu corpo faleceu, a 13 de junho de 2005.
***
CANTOePALAVRAS
Adolescente, 1942; Pureza, 1945; As Mãos e os Frutos, 1948; 

Os Amantes sem Dinheiro, 1950;
As Palavras Interditas, 1951; Até Amanhã, 1956;
Coração do Dia, 1958; Mar de Setembro, 1961;
Ostinato Rigore, 1964; Os Afluentes do Silêncio (prosa),1968;
Obscuro Domínio, 1971; Memórias da Alegria(antologia), 1971;

Antologia breve, 1972;
Vespera da Água, 1973; Escrita da Terra e outros
Epitáfios, 1974; Limiar dos Pássaros, 1976;

Chuva sobre o Rosto, 1976;
Memória Doutro Rio, 1978; Rosto Precário(prosa), 1979;
Matéria Solar, 1980;O Peso da Sombra, 1982;
Branco no Branco, 1984;Vertentes do Olhar, 1987;
Oficina da Paciência, 1994; O Sal da Língua, 1995;
Pequeno Formato, 1997; Os Lugares do Lume, 1998;
Os Sulcos da Sêde,2001 . . .
*
I
No mais fundo de ti
Eu sei que te trai, mãe.
-
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
-
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
-
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, MÃE,
E o nosso amor é infeliz.
-
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
-
Se soubesse como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
-
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minha pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, MÃE!
-
Olha - queres ouvir-me?
- Ás vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos.
-
Ainda aperto contra o coração
Rosa tão brancas
Como as que tens na moldura.
-
Ainda oiço a tua voz:
- "Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal. . ."
-
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
-
Não me esqueci de nada de mim.
E deixo as rosas.
-
boa noite. Eu vou com as aves.
***
EUGÊNIO DE ANDRADE
"Poema à Mãe"
Os Amantes sem Dinheiro
*
II
Tu eras neve.
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.
-
Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.
-
Eras o fruto
nos meus dedos a tremer
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.
-
Mas do nome
que maio decorou,
nem a côr
nem o gosto me ficou.
*
EUGÊNIO DE ANDRADE
"Canção"
Até Amanhã
*
III
Vejo ao longe os meus dóceis animais.
São altos e suas crinas ardem.
Correm a procurar a tua boca,
a púrpura farejam entre juncos quebrados.
-
A própria sombra bebem devagar.
De vez em quando erguem a cabeça.
Olham de perfil, quase felizes
de ser tão leve o ar.
-
encostam o focinho perto dos teus flancos,
onde a erva do corpo é mais confusa,
e como quem se esquece ao lume
respiram lentamente, apaziguados.
*
EUGÊNIO DE ANDRADE
"Os Animais"
Poesia e Prosa
*
IV
Hoje venho dizer-te que nevou
no rosto familiar que te esperava.
Não é nada, meu amor, foi um pássaro,
a casca do tempo que caiu,
uma lágrima, um barco, uma palavra.
-
foi apenas mais um dia que passou
entre arcos e arcos de solidão;
a curva dos teus olhos que se fechou,
uma gota de orvalho, uma só gota,
secretamente morta na tua mão.
*
EUGÊNIO DE ANDRADE
"Canção"
Poesia e Prosa
ALFREDO DE CARVALHO
Nasceu no seculo XIX, em Portugal . . .
Poeta...
*
CANTOePALAVRAS
Grinalda(revista) do Porto
*
Eu amo as horas em que a luz nascente
os céus envolve no purpureo véu
lembra-me a aurora que surgiu fulgente
de vão amores no formoso céu.
-
Quando co'as trevas inda lucta o dia,
se das estrellas vejo a luz brilhar,
lembram-me uns olhos em que o fogo ardia
quando os faziam de paixão falar.
-
Se escuto a aragem suspirar saudosa,
roubando aromas ao rosal em flor,
lembram-me as notas d'uma voz maviosa
que me fallava d'um eterno amor.
-
Se vejo a rosa de porpureas cores
que ao Sol de maio desabrocha então,
lembram-me uns lábios a sorrir d'amores.
Nas breves horas d'infantil paixão.
-
E se contemplo, na brilhante alvura,
do lirio, o orvalho que desceu do ceus,
lembram-ne encantos d'uma face pura
banhada em prantos de saudoso adeus.
-
Por isso eu amo vêr surgir a aurora.
Que traz lembranças de melhor viver;
Lembra-me, ó anjo, nosso amor d'outr'ora
Que nem na tumba poderá morrer.
*
ALFREDO DE CARVALHO
"Aurora"
Coimbra, 1855
Grinalda(revista)

FAUSTINO XAVIER
Faustino Xavier de Novaes
Pseudônimo "Padre Caetano"
Nasceu em 19 de fevereiro de 1820, cidade do Porto, Portugal
Poeta, ourives,jornalista, jornal "O Porto" e "Carta", Portugal.
Morou no Brasil Rio de Janeiro, onde morreu...
Faleceu a 16 de agosto de 1869.
*
CANTOePALAVRAS
Manta de Retalhos(prosa), 1865; Inês d'Horta; Cenas da Foz;
Bernardo . . .

*

Nas horas longas de uma tarde amena
Minh'alma pena por fatal tributo;
E tantas mágoas que meu peito encerra,
Ninguém na terra me pranteia o luto.
-
Perdi a infância e com ela a crença
Na luta imensa de um sofrer de horror;
E pouco a pouco vou perdendo a vida,
triste, abatida, qual a murcha flor.
-
E tantas glórias que eu sonhei, criança,
Tanta esperança que ocultei nest'alma;
Hoje em sonhos de ilusão de amor,
Nem murcha flor de singela palma.
-
Oh! Deus eterno, eu vivo ainda,
Vergonha infinda para um pai traído;
Vergonha, opróbrio de um viver impuro,
Negro futuro de um pensar perdido.
-
Para que vivo? Para ver-te um dia
Pálida e fria me estendendo a mão,
Curtindo as dores que as entranhas corta,
De porta em porta mendigando o pão.
-
Neste silêncio que a noite encobre,
Tranquilo dorme quem me faz penar;
É êsse o monstro sedutor, vaidoso,
Que vida e gôzo quis de mim roubar.
-
Depois a campa e o esquecimento
Nem um lamento sôbre o leito eterno;
Nem um suspiro, nem uma oração,
Ó maldição! Ó maldição do inferno!
-
FAUSTINO XAVIER
¨Nas Horas Longas¨


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