quarta-feira, 20 de maio de 2009

123 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


MARCOS KONDER REIS

Nasceu em 15 de Dezembro de 1922, Itajaí, Estado de Santa Catarina.
"Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento"
Itajaí, Sta. Catarina.

Poeta...
Faleceu em 11 de Setembro de 2001, Rio de Janeiro, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Tempo e Milagre, 1944; David, 1946; Apocalipse, 1946;
Menino de Luto, 1947; O Templo da Estrela, 1948;
Praia Brava, 1950; A Herança, 1952; Armadura de Amor, 1965;
 O Muro Amarelo, 1965...

I
Tempo eu me lembro ter havido, outrora,
Onde era o mundo onde era a minha alma
Um reino só, de bruma, entre cruzado, e verde
A beira mar de brisas matutino.
E no ar gelado porventura, o abismo
De ver-se de repente junto ao rosto
O inesperado bando de gaivotas brancas
Surtas da neblina e se perdendo
A uma perdida direção de sermos
Esse desejo de ermo. E nos perdendo, termos,
Dentro do nosso silencioso estar a vê-los,
Mastros de barcos estrangeiros desvelejados pelo porto,
Úmidos ainda, dentro de nós, por sombras
De haverem feito a longa travessia do atlântico
Trazendo dentro deles uma carta sonora dos países
Na aventura
De uma família inteira estar viajando,
Sem se esquecer daquele gato branco
Na janela da torre do comando;
Lindo porque é branco e porque é verde
De estar de bruços na sacada os tendo
Ao mesmo tempo no meu corpo e ao largo
Levemente ondejando, como num quadro desenhado
Serem de tarde, no ar da tarde, sendo
O silêncio sombrio de certas tardes.
Paro o meu rosto a procurar nos tombadinhos, a esmo,
O rosto de um menino chorando de saudade.
-
Só que, naquele tempo, esse menino era meu mesmo.
*
MARCOS KONDER REIS
"Os Barcos"
O Muro Amarelo"
*
II
Aquele mundo era,
 Para o menino, de abelhas,
Naquela tarde azul de primavera
Como se fora um bolo.
Aquele mundo era,
Naquela tarde azul de primavera e brisa,
Como se fora um quarto de ouro,
E tinha um perfume acre de flores e de cera,
O perfume da morte e o perfume da terra.
-
Aquele mundo era,
Para o menino, de ouro,
Naquela tarde de primavera,
Como se fora uma roseira.
Aquele mundo era,
Naquela tarde  azul de primavera e sono,
Como se fora um campo úmido,
E tinha um perfume prússico de árvores,
O perfume das frutas e o perfume das serras.
-
E no rumor de estarmos respirando
A sombra ressonante de um armário,
Aquele mundo era,
Naquela tarde azul de primavera,
Como se fora o nosso amor buscando,
Nas formas de uma flor de entusiamo,
A sombra de um louro deus afeito aos dardos.
*
MARCOS KONDER REIS
"Colmeia"
O Muro Amarelo
MILLÔR FERNANDES
Millôr(Milton) Viola Fernandes
Pseudónimos "Notlim" revista "Cigarra"
"Vão Gogo" Revista "Cruzeiro "Pif-Paf", 1941.
Nasceu a 16 de agosto de 1923, signo de leão,
Rio de Janeiro, Brasil
Foi humorista, Dramaturgo, escritor, jornalista . . .
Fundou o Jornal " Pasquim". . .
*
CANTOePALAVRAS
Papavemum Millôr, 1967; Hai-Kais, 1968;
Trinta Anos de Mim Mesmo, 1974; Livro Branco do
Humor, 1975; E . . .(teatro), 1977; A História é uma Istória
(teatro), 1978; Que País é Este, 1978;Poemas, 1984;
100 Fábulas Fabulosas, 2003. . .
*
I
São Cristovão deposto na Terra
São Jorge deposto na Lua
Discos na Terra
Módulos na Lua.
E, súbito, os astronautas são argonautas
De mitologia cibernética
Onde isótopos, relês, meteoritos,
Empuxo, propulsão, substituem,
Com refeita eloquência
Os nomes destronados do Lépido-sereia
Minotauro, Digongos, Duríades, Salamandras,
-
Hipógrifos e Unicórnios.
Onde manchetes, fotos, filmes, video-tapes,
Transmissões-em-cadeia
São os louros heróicos da conquista nova.
Ah, meu dicionário de rimas não tem iclos
Que rimem com tantos megaciclos.
Nem íons, que eu possa justapor
A tantos megatons.
(E sei que os heróis da Ática
Não conheciam a estática.)
Somos todos filósofos amadores
Partilhando da mesma certeza:
A queda bíblica
Nesta nova era
Bem pode se chamar
Reentrada na atmosfera.
A voces, que medem a distância Terra-Lua
Pela mágica-laser,
Que pensam em viajar, um dia,
Até Mercúrio - e além -
Brincar com cinturão de Allen,
Zombar da atração gravitacional de vários astros
Perfazer o périplo das galáxias.
A voces, jovens amantes,
Se possuindo na claridade atômica
Das esferas,
Peço que dêem três vivas
Aos acolchoados heróis da Lua nova
Os que pisaram no polo da dindinha Lua
Içam a bandeira humana no pico da inacessibilidade
Registraram a glória terrestre numa placa
E irradiaram seus passos, transistorizados,
A milhões de ouvidos, aqui,em Ítaca.
Que devemos pedir, humildes,
Às graças de nova sabedoria?
chuva e Sol computados? Flores mais perfumadas?
A fome controlada? Uma estrela para cada cidadão,
Já que há muito mais de um quintilhão?
Oh, meu único desejo(infantil)
É que soltem a pomba da paz no novo céu.
Talvez que ali, porra!
(Porque a vida humana é impossível)
Ela não morra.
*
MILLÔR FERNANDES
" Paz na Lua aos Homens de Má Vontade "
Revista "Veja" 1969

*
II
Fiquei mal da vista!
Depressa
Um oculista.
*
MILLÔR FERNANDES
"Sem título"
*
III
Penincilina puma de casapopéias
que vais peniça cataramascuma
Se partes carmo tu que esperepéias
Já crima volta pinta cataruma.
-
Estando instinto catalomascoso
sem ter mavorte dide lastimina
és todavia piso de horroroso
e eu reclamo - Pina! Pina! Pina!
-
Casa por fim, morte peridimaco
martume ezole, ezole martumar
que tua pára enfim é mesmo um taco.
-
e rabela capa de casar
estrumenente siba postguerra
enfim irá, enfim irá pra serra.
*
MILLÔR FERNANDES
" Soneto "
O Pif-Pafo
Revista " O Cruzeiro " 1945
*
IV
- Todos falam do que perderam botando-lhe ouro e pedras.

- Pobre vive é de teimoso: se tem pão falta a manteiga,
se tem feijão falta arroz, se tem mulher não tem casa,
se tem casa logo casa.

- A medicina não perdoa, nem se arrepende.

- Participe das dores dos amigos - mas reaja às pescrições.

- O amor à nossa estremecida pátria deve ser ensinado
desde o berço ou garoto, assim que crescer um pouquinho,
vai morar noutro país.
*
MILLÔR FERNANDES
" Mais Provérbios Árabes de Ipanema
Pif-Pafo
Revista " O Cruzeiro " 1963
*
V
- Está chovendo lá fora?
- A boca da noite diz nome feio?
- Marmelada falsificada é marmelada?
- Gerente, o senhor vai aumentar meu ordenado?
- O ponteiro de futebol também marca horas?
- Em corte de salário, se põe iodo?
- A barriga da perna tem umbigo?
- Querer é poder?
- O rádio do antebraço, pega ondas curtas?
- O critério político existe?
- Um capital líquido, é muito sólido.
*
MILLÔR FERNANDES
fragmentos "Ministério das Perguntas Cretinas "
*
VI
Vendo um pavão pela primeira vez
em sua vida, o menino exclamou entusiasmado:
" Mamãe, olha lá uma galinha em flor! ".
*
MILLÔR FERNANDES



UBIRATAN ROSA
Nasceu em 1927 Caçapava, Estado de São Paulo, Brasil.
Poeta, escritor, jornalista...
*
CANTOePALAVRAS
Pedro Malasartes e o Homem Natural; 
As Aventuras de Pedro Malasartes;
Profundis....
*
Não quero chorar as dores
que invadem meu coração
com as dores que me invadem
vou compor uma canção.
-
Vou cantar o meu amor
razão das dores de outrora,
esse amor sutil e esquivo,
razão das dores de agora...
-
Não, não; não quero chorar
vou compor uma canção...
Canta sempre, eternamente,
canta tolo coração...
-
Canta a dor que te dói tanto,
canta a dor que te consome,
e ao cansares do teu canto,
coração, sossega, e dorme...
*
Ubiratan Rosa
"Palavras para uma valsa dolente"

Foto 
10°. FLIP, 2012, Parati, Jornal do Brasil.
ANTONIO CICERO
Antonio Cicero Correia Lima
Nasceu em 1945, Rio de Janeiro.
Poeta, filosofo, compositor....
*
CANTOePALAVRAS
O Mundo desde o fim, 1995; Guardar (poesias), 1996;
A cidade e os livros (poesia), 2002....

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é estar acordado por ela.
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso de diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
*
Antonio Cicero
"Guardar"
JAIRO LIMA
Nasceu em 02 de julho de 1945, signo de câncer.
Arcoverde, Estado de Pernambuco, Brasil.
Poeta, dramaturgo . . .
Homenagens: Premio "Recife de Humanidades";
Premio "Hermilo Borba Filho"; Premio do
"Serviço Nacional de Teatro" . . .
*
CANTOePALAVRAS
Canção de Fogo (teatro), 1977; Ilustríssimos Senhores
(teatro), 1979; Livro das Árias e das Horas, Pequeno Livro
das Nuvens, 2000. . .
*
I
Corte no olhar
em planta a topografia do rastro luminante
que se deita sobre pós e águas rente à flor passante
ferro de espada e gume
-
(jorro quente de sangue)
-
em plantas a retina abrasada explícita fonte
em plantas o raio voraz tremente lume
escamas rígidas coaguladas ardente nuvem
oblíquas sílabas de pedra escandem o metro - lá longe
-
sob o rosto do Sol o vento entulha nuvens
Sob o rosto do Sol
dorme em águas a linha do horizonte
-
entre aqui e ali o olho Afastado sonha uma ponte
entre aqui e ali
dorme em águas a linha do horizonte
-
linha lenta ondulada dorme em águas
linha lenta Afastada sonha pontes
sílabas em lava
lentas águas recolhem as fibras translúcidas do ar
e tecem a mordaça que detém o grito nas muralhas do horizonte
-
lentas águas
*
JAIRO LIMA
"Sol e Água"
Livro das Árias e das Horas,  Pequeno Livro das Nuvens
*
II
pássaros insones inscrevem suas órbitas no espelho da tarde
a água lava em seu remanso a sombra das folhas deste dia
e por dizer-te em vértices de telhados digo-te tanto proclamo-te
no sangue inaugural do Sol com seus turíbulos de espanto
menos que sombra de to é o signo profano que te anuncia
no mais são vestes de nuvens e olhos místicos
que se aninham no côncavo das vogais cantantes
e pronunciam esta tarde o teu nome(dizer-te é heresia)
salmos cantos volutas litanias
um poema ainda não dito espreita a tua voz
para arrebatar-te o silêncio e tecer em torno do
teu corpo uma parábola de gritos.
*
JAIRO LIMA
"Árias"(fragmento)
Livro das Árias e das Horas e. . . .
*
III
seja agora
longe ao norte te vê um claustro de margaridas em pétalas
aqui te vê uma semínima na tangente de um compasso
largas calmarias se intercalam entre colunas de alísios
-
os violinos em larga calmaria se despedaçam na luz
fagotes trêmulos recitam poemas sem carne ainda
e o coro dos metais sidéreos desenha melismas entre o cristal e a retina
o olho respira a luz e vê -
-
vê sem cuidados a sombra que, ao norte, se estende além do claustro
e a flauta afiada que rasga um vocalise nos músculos do poema
para que a água, que te faz olhos, se faça tema
-
um oboé impede o pouso do pássaro
a tarde, suspensa, modela a mesma hora
até que o dia lembre da noite como uma antiga narrativa
a que se cravam ferros em cada sílaba
- o ontem, imóvel, esquece o gesto que faz passar a vida
*
JAIRO LIMA
"Sonata da tua Hora"
Livro das Águas e das Horas e. . . .
*
IV
inesperado corte na carne di invisível se faz de dálias dormentes em visceral
mente se expõe ao ritmo surdo da rima
rios em naipes de madeira e pedras vigílias
articulados entes cegos em mira de trompas
velado acorde em cantaria de fino lavor
infinitas
eqüidistantes
obras primiciais em ouro tom
palato e língua
vem e se está em planalto de nuvens.
-
um dia a obra acorda a um gesto demiurgo e se faz superfície líquida e
corrente de luz em som que se prolonga em trinos concertados de cravos
veneráveis que se afundam na película mais azul da luz.
-
palavra é pintura e hálito
carne em vento é palavra e pode ser tanto ou como ou alfinete cristal robalo
em infusão no pântano dos significados
estabelecida em tons lunares solares ou estelares
assim elas podem ser acasos
ou irem ao encontro do inexprimível impacto
que dá músculo sangue e nervo ao vento
se quando é noite
*
JAIRO LIMA
"A Palavra"
Livro das Árias e das Horas e . . . .

"Pleiades", Foto N.A.S.A.
*
MARCELLO GLEISER
Nasceu 19 de Março de 1959, signo de peixes.
Cidade Rio de Janeiro, Brasil.
Fisico, Astrônomo, professor, escritor, colunista, roteirista
de T.V. e Cinema . . .
Estudou na P.U.C.(Pontifícia Universidade Católica), 1981.
Professor de Física e Astronomia, escreve para o
jornal "Folha de S.Paulo", Brasil. Ministra uma disciplina
em "Dartmouth College" Hanover, E.U.A., intitulada
!Física para Poetas" . . .
Homenagens: Premio "Presidential Faculty Fellows
Award", 1994, entregue pelo então presidente
norte-americano Bill Clinton;
Prémio "Dartmouth Award for Outstanding Creative
or Scholarly Society", 1995;
Membro Permanente da "Academia Brasileira de
Filosofia", 2006; Premio "Jabuti", 1998 e 2002 . . .
*
CANTOePALAVRAS
Dança do Universo, 1997; O Fim da Terra e do Céu, 2002;
O Livro do Cientista, 2003; Micro Macro, 2004;
A Harmonia do Mundo, 2006; Poeira das Estrela, 2006;
Carta a um Jovem Cientista,
2007; Criação Imperfeita; Retalhos Cósmicos . . .
*
Parece paradoxal que, no início deste milênio,
durante o que chamamos com orgulho de
"era da ciência", tantos ainda acreditem
em profecias de fim de mundo. Quem não
se lembra do bug do milênio ou da enxurrada
de absurdos ditos todos os dias sobre a previsão
maia de fim do mundo no ano 2012?
Existe um cinismo cada vez maior com relação à
ciência, um senso de que fomos traídos, de que
promessas não foram cumpridas.
Afinal, lutamos para curar doenças apenas para
descobrir outras novas. Criamos tecnologias que
pretendem simplificar nossas vidas, mas
passamos cada vez mais tempo no trabalho.
Pior ainda: tem sempre tanta coisa nova e
tentadora no mercado que fica impossível
acompanhar o passo da tecnologia.
Os mais jovens se comunicam de modo quase que
incompreensível aos mais velhos, como "facebook",
"Twitter" e textos em celulares(telemóveis, Portugal).
Podemos ir à Lua, mas a maior parte da população
continua mal nutrida. Consumimos o planeta com
um apetite insaciável, criando uma devastação
ecológica sem precedentes. Isso tudo graças
à ciência?
Ao menos, é assim que pensam os descontentes, mas
não é nada disso.
Primeiro, a ciência não promete a redenção Humana.
Ela simplesmente se ocupa de compreender como funciona
a natureza, ela é um corpo de conhecimento sobre o
Universo e seus habitantes, vivos ou não, acumulado
através de um processo constante de refinamento e
testes conhecido como método científico.
A prática da ciência provê um modo de interagir
com o mundo, expondo a essência criativa da
natureza. Disso, aprendemos que a natureza é
transformação, que a vida e a morte são parte de
uma cadeia de criação e destruição perpetuada
por todo o cosmo, dos átomos às estrelas e à vida.
Nossa existência é parte desta transformação
constante da matéria, onde todo elo é igualmente
importante, do que é criado ao que é destruído.
A ciência pode não oferecer a salvação eterna,
mas oferece a possibilidade de vivermos livres
do medo irracional do desconhecido. Ao dar
ao indivíduo a autonomia de pensar por si
mesmo, ela oferece a liberdade da escolha informada.
Ao transformar mistério em desafio, a ciência
adiciona uma nova dimensão à vida, abrindo a porta
para um novo tipo de espiritualidade, livre do
dogmatismo das religiões organizadas.
A ciência não diz o que devemos fazer com o
conhecimento que acumulamos. Essa decisão é nossa,
em geral tomada pelos políticos que elegemos,
ao menos numa sociedade democrática. A culpa dos
usos mais nefastos da ciência deve ser dividida
por toda a sociedade. Inclusive, mas não
exclusivamente, pelos cientistas. Afinal, devemos
culpar o inventor da pólvora, pelas mortes por
tiros e explosivos ao longo da história? Ou o
inventor do microscópio pelas armas biológicas?
A ciência não contrariou nossas expectativas.
Imagine um mundo se antibióticos, TVs, aviões,
carros. As pessoas vivendo no mato, sem os
confortos tecnológicos modernos, caçando para comer.
Quantos optariam por isso?
A culpa do que fazemos com o planeta é nossa,
não da ciência. Apenas uma sociedade versada
na ciência pode escolher o seu destino
responsavelmente. Nosso futuro depende disso.
*
MARCELO GLEISER
"Sobre a importância da ciência"
Artigo publicado no jornal "Folha de S.Paulo"
17 de outubro de 2010.

JOSÉ CARLOS CAPINAN
Nasceu a 19 de dezembro de 1941, signo de sagitário.
Esplanada, Estado da Bahia, Brasil.
Poeta, Compositor famoso de músicas conceituadas . . .
participou de vários festivais na televisão, Brasil . . .
*
CANTOePALAVRAS
Confissões de Narciso, 1986; Terra à Vista, 1995;
Nas Terras do sem Fim, 1996; Balança mas Hai-Kai, 1996 . . .
*
I
A poesia é a lógica mais simples.
Isso surpreende
aos que esperam ser um gato
drama maior que o meu sapato
aos que esperam ser o meu sapato
drama tanto mais duro que andar descalço
e ainda aos que pensam não ser meu descalço
um modo calmo.
-
(Maior surpresa terão passado
os que julgam que me engano:
ah não sabem quanto quero o sapato
não sabem quanto trago de humano
nesse desespero escasso.
-
Não sabem mesmo o que falo
em teorema tão claro.
-
Como não se cansariam ao me buscar os passos
pois tenho os pés soltos e ando aos saltos
e, se me alcançassem, como se chocariam ao saber que faço
a lógica da verdade pelos pontos falsos.)
*
JOSÉ CARLOS CAPINAN
"Poeta e Realidade"(Didática)
*
II
Vou tentar a desistência
vou sentar aqui
ficar sem ir
e esperar por mim que vem atrás
-
os frutos caem
o carro corre
o poeta morre
o mundo marcha para sua manhã
e a sinfonia não pára
-
- sendo fatalidade, fico aqui -
se em tudo existe a própria máquina
pouco acrescenta ir ou não ir
gritam
pulam
ficam práticos
todos teóricos
abrem camisa arrancam gravata
dizem senões
perdem botões
e permanecem homens
. . . . . . filhos da hora
irmãos do momento
-
eu vou parar
que venha a noite
-
se vier com luz
amén.
-
se vier escura
amén
-
se vier mulher
bem, aí muito bem.
*
JOSÉ CARLOS CAPINAN
"Poesia e Realidade"( O Desistente)
26 Poetas Hoje
*
III
Vida é fazer, todo sonho brilhar
Ser feliz, no teu colo dormir
E depois acordar
Sendo seu colorido
Brinquedo de papel machê.
-
Dormir no teu colo, é tornar a nascer
Violeta azul
Outro ser,
Luz do querer.
-
Não vai desbotar,
Lilás cor do mar
Seda cor de batom
Arco-Íris crepom
Nada vai desbotar
Brinquedo de papel machê. . . .
*
JOSÉ CARLOS CAPINAN
Papel Machê
(Música de João Bosco)




JORGE WANDERLEY
Nasceu em 1938
Recife, Pernambuco, Brasil
Poeta, tradutor; 
professor de Literatura, médico . . .
Faleceu em 1999.
*
CANTOePALAVRAS
Manias de agora . . .
*
Este velho que ouço na voz do cello
ainda viril e encapuzado
sabendo tudo e lento e irado
é talvez Deus;
- sou eu no meu melhor - 
está dizendo.
e é também Bach
que vem agora à corda conclusiva
de Yo Yo Ma.
-
O velho está lá
que sempre acende cada corda.
Capuz e barba, e uma ciência-remorso:
Deus errou.
tudo pode
no grave, no severo,
e pode toda a luz e todo o mar
e pode a Si
- mas como é Deus, errou -
-
O cello diz falando só no acerto,
mas houve um erro, que torna possível
erguer-se o som, alçado no infinito:
assim
surgido contra o nada e seu silêncio
e de fricção.
Do lamentar. Do atrito. 
*
JORGE WANDERLEY
¨Cello¨

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