terça-feira, 19 de maio de 2009

124 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "




"Meu Jardim" Foto LuisD.

*
RUI KNOPFLI
Rui Manuel Correia Knopfli
Nasceu a 18 de agosto de 1932, signo de leão.
Inhambane, Moçambique, África. . .
Homenagens: Prémio de Poesia "PEN" Clube,
1984 . . .
Morreu em 1997.
*
CANTOePALAVRAS
O País dos Outros, 1959; O Reino Submarino,1962;
Máquina de Areia, 1964; Mangas Verdes com
DSal, 1969; A Ilha de Próspero, 1972; O Escriba
Acocorado, 1978; O Corpo de Atena, 1984;
Obra Poética, 2003 . . .
*
I
Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
européias
e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem raiz a raiz de algum
pensamento europeu.
É prov´vel. . .Não. É certo,
mas africano sou.
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente
desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão
de coordenadas geográficas e mar Índico.
rosas não me dizem nada,
caso-me mais à agrura das micaias
e ao silêncio longo e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.
***
Chamais-me europeu? Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez
e planuras sem fim
com longos rios langues e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola estalando.
*
RUI KNOPFLI
"Naturalidade"
*
II
De granada deflagrada no meio
de nós, do fosso aberto, da vala
intransponível, não nos cabe
a culpa, embora a tua mão,
armada pelo meu silêncio,
lhe tenha retirado a espoleta.
De um lado o teu dedo indicador,
de outro a minha assumida neutralidade.
Entre os dois, ocupando o espaço
qie vai do teu dedo acusador
à minha mudez feita de medo e simpatia,
tudo, quanto a medonha zombaria
de ódios estranhos escreve a sangue
e, irredutivelmente, nos separa e distância.
Tudo quanto há-de gravar o meu nome
numa das balas da tua cartucheira.
Nessa bala hipotética, nessa bala possível
Que vier, quando vier(ela há-de vir).
-
Melhor dirá o que aqui fica por dizer.
*
RUI KNOPFI
"O Preto no Branco"
Mangas Verdes com Sal

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RUI NOGAR
Nasceu em 02 de fevereiro de 1932, signo de aquário.
Maputo(Lourenço Marques), Moçambique, África.
Poeta, trabalhou em diversas revistas . . .
Preso por divergências políticas. . .
Faleceu em 11 de março de 1993.
*
CANTOePALAVRAS
Silêncio Escancarado, 1982 . . .
I
do silêncio às palavras
e o Universo da subversão
-
os panfletos e o vento
na dialéctica do verbo
-
os amigos que se conquistaram
por entre as ruínas do ódio
-
as dúvidas que apunhalamos
no dorso da indecisão
-
a vígilia obrigatória
dos que se obrigam a vigiar-nos
-
os "maquis" das sapatilhas
desafiando a escuridão
-
o vermelho das intenções
subvertendo cada passo
-
o rastilho da razão
e a pólvora da ciência
nas celas da ignorância
-
e o escorpião do medo
e a inflação do ódio
nas diversas fases metamórficas
do racismo pideografado
-
sim . . . companheiros
*
RUI NOGAR
"do silêncio às palavras"
Silêncio Escancarado
*
II
era este . . .e muito mais
o Universo da subversão
que do silêncio às palavras
nos revelava claramente
o caminho da revolução
*
RUI NOGAR
"do silêncio às palavras"
Silêncio Escancarado


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NOÉMIA DE SOUSA
Carolina Noémia Abranches de Sousa
Nasceu em 20 de setembro de 1926, signo de virgem,
Catembe, Maputo(Lourenço Marques), Moçambique, África.
Jornalista, viveu em Portugal.
Seu corpo, faleceu em 2002.
*
CANTOePALAVRAS
Sangue Negro, 2001 . . .
*
Se este poema fosse mais do que simples
sonho de criança. . .
Se nada lhe faltasse para ser total realidade
em vez de apenas esperança . . .
-
Se este poema fosse a imagem crua da verdade
eu nada mais pediria à vida
e passaria a cantar a beleza garrida
das aves e das flores
e esqueceria os homens e as dores . . .
Se este poema fosse mais do que mero
sonho de criança.
-
Ai o meu sonho . . .
Ai a minha terra moçambicana erguida
com uma nova consciência, digna e amadurecida . . .
A minha terra cortada em toda a sua extensão
por todas essas realizações que a civilização
inventa para tornar a vida humana mais feliz . . .
Luz e progresso para cada povoação perdida
no sertão imenso, escolas para crianças,
para cada doente a assistência da ciência consoladora,
para cada braço do homem uma lida,
honrada e compensadora,
para cada dúvida uma explicação
e para os Homens, Paz e Fraternidade!
-
Ah! se este poema fosse realidade
e não apenas esperança!
Ah! se o fosse, o destino da nova humanidade
não mais me inquietaria e eu passaria
a cantar então a beleza das flores,
das aves do céu, de tudo que é futilidade -
porque então a dor humana nãi existiria,
nem a felicidade, nem a insatisfação,
na nova vida plena de harmonia.
*
NOÉMIA DE SOUSA
" Se este Poema fosse . . ."
*
Meu Jardim
"Gerânio"
Foto Luis Dias

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ORLANDO MENDES
Orlando Marques de Almeida Mendes
Nasceu em 04 de agosto de 1916, signo de leão.
Ilha de Moçambique, Moçambique, África.
Poeta, escritor dramaturgo, romancista, biólogo. . .
Doutorou-se em Ciências Biológicas na Universidade
de Coimbra na década de 1940. Escreveu para vários jornais e
revistas como "Vértice" . . .
Homenagens:
Prémio "Fialho de Almeida", 1946.
Estilo neorealismo.
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CANTOePALAVRAS
Trajetórias, 1940; Clima, 1951; Carta do Capataz da Estrada, 1955;
Depois do Sétimo Dia, 1963; Portanto eu vos Escrevo, 1964;
Portagem, 1966; Véspera Confiada, 1968; Um Minuto de Silêncio(teatro), 1970;
Adeus de Gutucumbi, 1971; A Fome das Larvas, 1975;
Pais Emerso, 1976; Produção com que Aprendi, 1978;
Lume Florindo Forja, 1981; Sobre Literatura Moçambicana, 1982;
Papá Operário mais seis histórias, 1983; As faces Visitadas, 1986;
O Menino que não Cresceu, 1986. . .
*
Ao torno as mãos e a lima
alisando infimas rugas na peça de aço
e a limalha polui a paragem do ar
e o olhar do operário zela por cima
e eu com um poema por inventar
é dentro daquela oficina que o faço.
Lá fora na larga rua circula gente
para cumprimento das tarefas que se proponha
ou em descuidado talvez preocupado passeio
e do lado contrário o vasto quintal
duma velha casa onde se pressente
a dolorida fala duma jovem tendo vergonha
da gravidez com ameaça pelo meio.
-
Seria esta mesmo assim tal e qual
a cena própria para uma nova pintura
se um pintor abandonasse a paisagem
como tema de fundo e simbolos à mistura
o pintasse em tela mostrada como vivem e agem
corpos de gente que trabalha e passa muita e pouca.
Para mim é certo que o operário daquela
oficina produtora também esbe ser poeta
pela espontânea canção nascente na sua boca
de trabalhador na paz armada que vela
por músculos instrumentos e obras em conjugação completa.
Guardo a validade suspeita do poema que fiz
e ao operário surpreso peço que me deixe
experimentar a ciência do seu ofício
e não sei nem quero saber se flor ou raiz
se respiração transitória de ave ou de peixe
me alegra na tentava que assim mereço.
-
Saí. Voltando voluntário no dia imediato
recapitulei severamente o poema e disse-o
ao meu companheiro e esse foi o exacto preço
tão intimo que paguei pelo desejado acto
contínuo de sermos camaradas não sós
porque no espaço livre do nosso País
tantas vozes se juntam formando a voz
para compor a poesia que se quer e diz.
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ORLANDO MENDES
"Naquela Oficina"
(Mais Poemas "NEGRAS CAPAS . . .
POETAS DE COIMBRA" pág. 184).


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