quinta-feira, 14 de maio de 2009

134 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

▬▬
JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
Nasceu a 13 de Junho de 1945, Peso da Régua, Portugal.
Poeta, ensaísta, crítico de poesia, professor...
-
CANTOePALAVRAS
Consequência do Lugar, 1974; Três Poemas, 1975; Dos Enigmas, 1976;
Pelos Caminhos da Manhã, 1977; Antonio Palolo, 1978;
Os Dias, Pequenos Charcos, 1981...
I
Quero ouvir neste fim de tarde
o vento matinal daquelas folhas
na marítima varanda aonde abri
duas cadeiras de lona cor de malva.
-
O frio do crepúsculo, os murganhos
sem rota nas faúlhas das queimadas,
as sarrentas plantas dos beirais,
as crucificadas flores dos agaves.
-
O cão negro veio dos arbustos
com um pau de musgo para nós.
As borras do café nas chávenas
sobre as folhas prestes a voar.
-
Esse vento morto da janela
regressa com as aves invisíveis.
*
JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
Dos Enigmas
*
II
Tu és o joalheiro deste salmo a tua casa
aberta aos sete fogos de outono.
-
Apertaste-me tão perto passaste por mim a tua mão
fugiram de mim as criaturas
desde os outros ao trigo da manhã.
-
A fêmea do rosto o macho do rosto
seguem um a um os teus caminhos.
-
Um animal vem morder ao teu regaço
os grãos de pimenta e os amordaçados sabores
da canela dos citrinos do trovão.
-
Eu olho-te à distância,
os olhos vermelhos de não poder chorar.
*
JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
"Cancela"
▬▬
MÁRIO CABRAL
Nasceu a 26 de março de 1914, signo de aries,
Aracaju, estado de Sergipe, Brasil.
Poeta, Faculdade de Direito da Bahia, doutorou-se
em Direito. Participou em várias revistas, jornais.
Participou na Academia Sergipana de Letras.
Diretor do "Teatro Castro Alves" Salvador, Bahia. . .
-
CANTOePALAVRAS
Cidade Morta; Caderno de Crítica; Crítica e Folclore;
Roteiro de Aracaju; Caminho da Solidão. . .

I
É noite. Solidão. Lá fora, na janela,
a chuva tamborila e chora e grita e brada.
Leio um livro de Poe. . .E a frígida nortada
no telhado executa doida tarantela. . .
-
A sala é muito grande. A lâmpada amarela
a tudo empresta cor soturna e desmaiada.
E cá dentro a tristeza. A tristeza e mais nada.
E triste vou lembrando os lindos olhos dela.
-
Não consigo dormir. . . Alguma dor corrói
este meu coração. . . E ver, às vezes, creio,
o vulto fantasmal da novela de Poe. . .
-
E toda a noite assim. . . E esse mal sem remédio. . .
E sempre essa tortura. . . E sempre o mesmo anseio. . .
Essa mágoa, essa dor, esse pranto, esse tédio. . .
-
MÁRIO CABRAL
"Tédio"

II
Há prenúncio de luz na pupila da aurora!
Fundos golpes de dor. . . É a vibração dos relhos
Com os quais fustiga o Sol, vergasta e desarvora,
a negra noite fria a soluçar de joelhos. . .
-
Fulgem clarões marciais galgando céus afora!
No cenário da serra há borbotões vermelhos. . .
E o triste lago azul, que na floresta mora,
reflete o crime atroz, no cristal dos espelhos.
-
E vive e avulta o Sol em portentoso alarde!
E, por fim, tomba exausto e rui na terra boa
envolto nos lençóis que lhe oferece a tarde. . .
-
E a noite vem, de novo, assim, quase de rastros,
velar o seu algoz - escrava, ela perdoa -
a sangrar, ouro e luz, da cicatriz dos astros!
-
MÁRIO CABRAL
"Crepuscular"
▬▬
LEAL DE SOUZA
António Eliezer Leal de Souza
Nasceu em 24 de dezembro de 1880, signo de capricórnio,
Livramento, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Poeta, trabalhou em vários jornais . . .
Faleceu em 1948.
*
CANTOePALAVRAS
Álbum de Alzira, 1899; Bosque Sagrado, 1917;
Canções Revolucionárias, 1923. . .
*

As luzes de ouro da cidade

Vaporam fúlgida neblina . . .

Esquivo ideal - felicidade,

Qual dessas luzes te ilumina?

-

Fria a vontade e o peito ardente,
De bens e males sob os rastros,
O homem aos sonhos ergue a mente
E não levanta o olhar aos astros.
-
Por essas luzes atraídos,
Filhos do vale e da planura,
De longe vieram, atrevidos,
bater às portas da ventura . . .
-
As luzes de ouro da cidade
Vaporam fúlgida neblina . . .
Esquivo ideal - felicidade,
Qual dessas luzes te ilumina? . . .
*
LEAL DE SOUZA
" Noturno "
Bosque Sagrado
▬▬
GILBERTO AMADO
Nasceu em 1887, Estância, Sergipe, Brasil.
Poeta...
Faleceu em 1969, Rio de Janeiro, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
............................................

*
Quero louvar o zelo desenvolto
com que arranjas o próprio desmazelo,
é sempre para mim cabelo solto
por melhor penteado o teu cabelo.
-
Em doce névoa de volúpia envolto
gozo contente o descuidado zelo
com que logras fazer de um mar revolto
de ondas lisas o clássico modelo.
-
Mergulham minhas mãos na noite funda
da perturbante tempestade em ordem
que o teu rosto claríssimo circunda.
-
E encontram minhas mãos onde mergulham
um ninho de relâmpagos que mordem,
novelos de serpentes que fagulham.
*
Gilberto Amado
"Teus Cabelos"
▬▬


Nenhum comentário: