quinta-feira, 14 de maio de 2009

135 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "



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GAMALIEL BORGES PINHEIRO
Nasceu em 20 de março de 1921, signo de áries,
Água Preta, Itaocara, Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
Poeta, na antiga Universidade do Distrito Federal, formou-se
em Geografia e História, na faculdade de Ciências
Jurídicas do Rio de Janeiro, Brasil, colaborou com várias
revistas. . .
*
CANTOePALAVRAS
Visão do Meio-Dia, 1961. . .
*
Neste planeta adverso, atormentado,
pode haver paz, riquezas, alegria,
miséria, confusão, medo, agonia,
ninguém há de julgar-se realizado,
*
pois a todos assalta, dia dia,
a morte, a ânsia, a lágrima, o cuidado;
do mar da vida infenso, encapelado,
não se pode fugir à travessia.
*
A própria condição de ser humano,
que faz sofrer a humanidade errante,
também nos faz irmãos no sofrimento.
*
Fraternidade, pois, assim de plano,
é chorar com a dor do semenhante,
e rir com ele em seu contentamento.
*
GAMALIEL BORGES PINHEIRO
"Fraternidade"
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CARLOS DE OLIVEIRA
Nasceu em Carlos Alberto Serra de Oliveira
Nasceu em 1921, Belém do Pará, Estado do Pará, Brasil.
Formou-se na "Universidade de Coimbra", Portugal
em Ciências Histórico-Filosóficas...
Faleceu em 1981.
*
CANTOePALAVRAS
Turismo, 1942;  Casa na Duna (romance), 1943; Alcatéia (romance), 1944; 
Mãe Pobre, 1945; Pequenos Burgueses (romance), 1948; 
Colheita Perdida, 1948;
Descida aos Infernos, 1949; Terra de Harmonia, 1950;
Cantata, 1960; Poesias, 1945/60; Uma Abelha na Chuva (romance), 1953; 
Sobre o Lado Esquerdo, 1961/62;
Micro paisagem, 1963/65; Finisterra (romance), 1979
Trabalho Poético... 
*
I
dormir
mas o sonho
repassa
duma insistente dor
a lembrança
da vida
água outra bebida
na pobreza da noite;
e assim perdido
o sono
o olvido
bates, coração, repetes
sem querer
o dia.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"Sono"
Trabalho Poético
*
II
Rudes e breves as palavras pesam
mais do que as lajes ou a vida, tanto,
que levantar a torre do meu canto
é recriar o mundo pedra a pedra;
mina obscura e insondável, quis
acender-te o granito das estrelas
e nestes versos repetir com elas
o milagre das velhas pederneiras;
mas as pedras de fogo transformei-as
nas lousas cegas, áridas, da morte,
o dicionário que me coube em sorte
folheei-o ao rumor do sofrimento:
ó palavras de ferro, ainda sonho
dar-vos a leve têmpera do vento.
*
CARLOS DE OLIVEIRA
"Soneto"
Trabalho Poético

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DÉCIO BAR
Nasceu em 27 de Agosto de 1943, São Paulo, Brasil.
Poeta...
Faleceu em 16 de Julho de 1989, São Paulo, Brasil.
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CANTOePALAVRAS
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Ó mar, mar de sargaços e pompas, irmão de preguiça e
amplexos, dominador de tambores guerreiros: mil e dez
mil algas esvoaçantes lamentam o passageiro superficial,
o acrobata marinheiro e, ainda assim, terrestre.
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Propiciatório paço ao gótico submerso leva uma gaivota
além de suas asas, e os peixes ao não possível da areia.
-
Eh, mar, mar sem sinetes e aldrabas, caçamba intacta
de pequenas prendas; ei-los que já se escapam de todo
o sabido na rudimentar moldura dos mapas.
-
Vadio Netuno de dobradiças abdicadas ao vento; maça
florida e, ainda assim, automática. Relento dos
minguantes nebulosos, alento germinador da perene
partida; governo sempre e não já, no mais.
-
Solar engastado em traves de aljôfar, uma cimitarra
de luz corta seu dorso, e num arco preciso cai um pássaro
que não mais resiste.
-
Ó mar, mar de conchas e de redomas; mar morto, mar
criança, mar vinhetado pela passagem da Lei e de um
povo; mar penteado de tridentes - foco interdito aos
olhos verdes, mar de já, mar de antes - de diamantes;
mar de hoje, mar de outrora, de agora e da hora da
morte, que é amaro o amor do mar à morte, por isso
que o mar se repete em sete e seus nomes, se 
enclausura em pedras de raízes fundas, fustigador
do intimorato.
-
Eh, mar de Janaína, mar de Iemanjá.
-
Saravá rainha das ondas encanecidas.
-
Saravá poder abissal atraente de óculos acetinados
-
Saravá infinito empolgante de um parente tão
jovem e já desconhecido.
-
Saravá regulado frio de mandrágoras e ervas, teto
voraz que se acende e arrebata.
-
Saravá esperado regressar dos que já morderam
teus seios, cláusula cinzelada por piratas no âmago
das escotilhas, no leme e na vela, no cheiro e no vento 
- em que tudo vive.

Décio Bar
"Ó Mar"
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CELSO DE ALENCAR
Nasceu em Belém do Pará, Estado do Pará, Brasil.
Poeta, mora em São Paulo, Brasil, desde 1972. . .
*
CANTOePALAVRAS
Tentações, 1979; Salve Salve, 1981;
Arco Vermelho, 1983; Os Reis do Abaeté, 1985;
O Pastor, 1994; Sete, 2002; Testamentos, 2003 . . .
*
I
Antes que eu atravessasse o riacho
eu senti o cheiro de palha
de milho, queimada.
As águas agitadas
formavam pequenas ondas
como se me dissessem:
Vem! Molha os teus ombros.
Eu fiquei arrebatado
e me perguntava
se ria ou chorava.
Os peixinhos completamente
eufóricos arremessavam
pedrinhas contra mim
e se ocultavam entre
as plantas aquáticas.
Quinze rãs, paradas,
incrédulas olhavam-me
como se vissem em mim
um fantasma d'água e
coaxavam sonoramente
formando um coro de
vozes de fêmeas e machos.
Desviando das procelas do riacho
coloquei-me do outro lado
com três flores nas mãos
e ao tocar o topo de montesinho
surgiu-me a imensa terra plana.
-
Cingido pelos nós
que só a terra dá
fui transpondo,
primeiramente o pasto,
em seguida os campos
de milho e trigo e
por fim as videiras
que deitavam em mim
os seus olhares fugidios
e melindrados.
Sacudiu-se o meu coração
ao avistar ao lado um
canteiro de gerânios
a casa de meu pai.
Já passava do almoço
e os empregados se deslocavam
para as tarefas da tarde.
Aqueles que me conheciam
vieram em minha direção
e ternamente puseram
no meu rosto as suas
mãos e disseram-me:
Não estás morto não!
Continuei o meu caminho
e por onde passava
nasciam margaridas
e flores do campo.
Meus passos eram
inquietos e trôpegos
e havia uma sensação
de lágrimas escoando
pelo meu rosto.
-
Avançando em direção à casa
inesperadamente vi meu pai
com um ancinho
observando a horta.
Estava a poucos metros
de costas para mim
e eu avancei mais ainda
e a cinco passos e com uma
voz rouca e aflita
o chamei: pai!
Voltou-se lentamente
e antes que seu tronco
se voltasse totalmente
seus olhos esverdeados
já me fitavam.
Largando o ancinho
sobre as verduras
caminhou como um
pássaro que não voa
e antes que tocasse
soluçou convulsivamente.
Foi um tempo interminável
onde ficamos abraçados
chorando ruidosamente
como se tivéssemos a notícia
da morte de um parente.
Ouvindo esse som estranho
que se fazia no quintal
surgiram nas portas e nas janelas
os empregados da casa e meu irmão.
Felizes choravam todos
pela volta de um homem
que causou uma grande mágoa.
-
Passado esse êxtase
de sofrimento e alegria
meu pai, como os homens revividos,
pediu a todos que festejassem
a volta de seu filho.
Ouvi ainda
meu irmão questionar:
por que os festejos para
um homem que corroeu
parte de nosso patrimônio
e volta sem uma só moeda
faminto e maltrapilho?
Eu que vivi
estes tempos todos
trabalhando como as
hastes das carroças
quantas festas foram
feitas para mim?
Meu pai com sua brandura
afagou os cabelos de meu irmão
e disse-lhe: quem festeja
é somente aqueles que
perderam um filho.
Haverá um momento
na tua vida em que
serás também pai
e então compreenderás
porque festejo este dia.
*
CELSO DE ALENCAR
"O Filho Pródigo"
13
Testamentos
*
II
Havia estrelas silenciosas
correndo abraçadas no céu.
-
E havia pombos dormindo
com seus filhotes protegidos
pelas asas de sua mães delicadas.
-
E havia um muro de pedras
que se erguia cheio de flores
e formava uma paisagem noturna
com perfumes de jasmim.
-
Não havia escuridão
Havia uma lua que cantava
como se fosse uma soprano louca.
-
Nada que dissesse
a noite está sem identidade visual
porque havia identidade visual
e estava bela como a imensidão
de uma mãe com luvas.
-
Não havia cerração absoluta
e nenhuma chuva regressando.
-
Eu vi a gata preta morta
e o seu fantasma de ouro.
-
Eu vi os olhos hipnotizadas da gata morta
e as faíscas fulminantes de pavor.
-
vi os quatro filhotinhos mortos
entre o sangue e os destroços.
-
Vi os olhos mortos do assassino
com sua pálpebras de carvão
e a cegueira de cobra, cheia de gotas,
esquivando-se pela noite.
-
vi as pétalas das rosas brancas
movendo-se iguais a coelhos brancos,
no chão dourado do jardim.
*
CELSO DE ALENCAR
"Anjos"

III
Os muros gastos pelos corpos e
pelo tempo avizinham-se de pó.

Os anos marcados, entre a porta
e o teto, são as certidões das casas.

O esboço, o único,
são os braços.
As pernas já estão dobradas.
*
CELSO DE ALENCAR
"Ocaso"
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