terça-feira, 5 de maio de 2009

143 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "

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ANTÓNIO RAMOS ROSA
António Vitor Ramos Rosa
Nasceu a 17 de outubro, de 1924, signo de libra,
em Faro, capital da província do Algarve, Portugal. . .
Poeta, professor...
Estilo Pós-Modernista.


CANTOePALAVRAS
O grito claro, 1958; Viagem através duma nebulosa, 1960;
Voz inicial, 1960; Ocupação do espaço, 1963; Terrear, 1964;
Estou vivo e escrevo sol, 1966; A construção do corpo, 1969;
Nos seus olhos de silêncio, 1971; A pedra nua, 1973;
Horizonte imediato(antologia), 1974; Ciclo do cavalo, 1975;
A imagem, 1977; Boca incompleta, 1977;
As marcas no deserto, 1978;
A nuvem sobre a página, 1978; Círculo aberto, 1979;
Incêndio dos aspectos. 1980. . .
Poesia, liberdade livre(ensaios), 1962;
Obra Poética(poemas: - Não posso adiar o coração;
Animal olhar; Respirar a sombra viva) 1974 e 1975. . .
I
Em torno um espaço
- e já a noite ou a sombra
desta mão?
Um espaço. Um espaço
de equilíbrio.

Ausente sempre.
Existe ou não existe?
Que importa? Um espaço
o cerca. Um equilíbrio.

Como se encontra? Como
saber se nele tropeça, ou o desfaço?
se o visse, como diria?

Direi que é nada. Nada.
Que digo eu? Que é nada
ou só o muro que o tapa.
Fumo de palavras. Nada,
a raiva torpe, o negro
inútil destas linhas.

E todavia o espaço
o equilíbrio,
o equilíbrio do espaço.

Como, com se,
um sopro submerso,
um feixe de haustos,
um novo corpo
num espaço de equilíbrio.
.
(Efémero desde sempre?
Irredutível?
A palavra o recolhe
mas não o diz?
E que digo eu agora?
Apenas que ele existe?)
.
Um espaço. Um equilíbrio.
Um espaço
de equilíbrio.
Em torno ao que
às vezes chamo árvore
ou tronco.
.
ANTÓNIO RAMOS ROSA
"Em torno um espaço"
Repirar a sombra viva
*
II
Não posso adiar o amor para outro século.
Não posso.
Ainda que o grito sufoque na garganta.
Ainda que o ódio estale e crepite e arda
Sob montanhas cinzentas
E montanhas cinzentas
*
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
Amor e ódio.
*
Não posso adiar
Ainda que a noite pese séculos sobre as costas
E a aurora indecisa demore
Não posso adiar para o século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de liberdade.
*
Não posso adiar o coração.
**
ANTÓNIO RAMOS ROSA
"A Mão de Água e a Mão de Fogo"

*
III
Há uma face que não sei,
que não sou.
E o que sou é a face de uma sombra.
Escrever para essa sombra sem face.
-
Sou uma sombra sem face
na sombra da rua.
Escrevo nesse intervalo,
nessa sombra onde ninguém suspira,
onde ninguém passa,
onde ninguém me vê passar,
onde não passo,
onde vou passar.
-
Há uma face
página onde a sombra se fez face
frente à sombra.
Escrever contra a face sem face.
-
escrever acender na sombra
árvores
mover a sombra até ao céu da rua.
-
Caminhar na sombra desatar a sombra
alta e viva
contra a face aberta
contra a face viva.
-
Sou somos uma face uma sombra
uma sombra uma face.
-
Escrever é abrir na sombra uma sombra
e respirar na sombra
um corpo de sombra.
-
Ninguém nos vê nem nos verá jamais
-
Respirar a sombra viva.
*
ANTÓNIO RAMOS ROSA
"A sombra de uma face a sombra de uma sombra"
Respirar a sombra viva

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JOSÉ SIMÕES ROSA
Nasceu em 
05 de Fevereiro de 1844, Benfeita, Arganil, Portugal
Poeta, romancista, jornalista, teólogo pela Universidade de Coimbra, Portugal.
Fundador do Jornal ¨Crisálida¨, junto com Teófilo Braga, colaborou no Jornal ¨A Folha¨
Elaborou o Jornal ¨Academia¨, juntamente com Lopes Praça e Emílio Navarro...
Faleceu em 03 de Março de 1899.
-
CANTOePALAVRAS
O Relicário ou Mundo Interior, 1863; Sol à Sombra, 1864; Coroa de Amores, 1868(romance)
A Hóstia de Oiro, 1869; As Mães, 1877(romance); O Pecado, 1878(romance); Peninsulares(?);
História da Literatura Portuguesa; Espanha Moderna...
-
O lenço que tu me deste
Trago-o sempre no meu seio
Com medo que desconfiem
Donde este lenço veio
-
De noite dorme comigo
De dia trago-o no seio
Com medo que os outros saibam
Donde este lenço veio.
-
Alvo, da cor da açucena,
Tem um ramo em cada canto;
Os ramos dizem saudade,
Por isso lhe quero tanto.
-
Esse lenço pequenino
Tem dois corações no meio;
Só tu no mundo é que sabes
donde este lenço veio.
-
Todo ele é de cambraia
O lenço que me ofertaste;
Parece que inda estou vendo
Os dedos com que o bordaste.
-
Para o ver até me fecho
No meu quarto com receio
Que m´o vejam e perguntem
Donde este lenço veio.
-
Com os olhos nesses bordados
Nem sei até no que penso,
Os olhos tenho-os já gastos
De tanto olhar para o lenço.
-
Se às vezes lhe dou um beijo
Guardo-o logo no seio,
Com medo que desconfiem
Donde este lenço veio.
-
As letras que lá bordastes
São feitas do teu cabelo;
Por maisque o veja e reveja
Nunca me farto de vê-lo.
-
Nas letras por ti bordadas
Vem o meu nome e o teu;
Bendito seja o teu nome
Que se enlaçou com o meu!
-
Por isso o trago escondido,
Bem guardado no meu seio,
Com medo que perguntem
Donde este lenço veio.
-
Quanto mais me ponho a vê-lo,
Mais o amor se renova;
No dia do meu enterro
Quero levá-lo para a cova.
-
Vem pô-lo sobre os meus olhos
Que eu hei-de tê-lo no seio
Mas não descubras ao mundo
donde este lenço me veio.
-
JOSÉ SIMÕES DIAS
¨O Lenço que tu me deste¨ 

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ARMINDO RODRIGUES
Armindo José Rodrigues
Nasceu em 1904, em Lisboa, Portugal.
Médico, Faculdade de Medicina da Universidade
de Lisboa, Portugal, e Poeta
Participou em inúmeras revistas como "Seara Nova"
e "Vértice". Foi preso diversas vezes por divergências
políticas. Um dos fundadores do "Pen Club" em português . . .
Faleceu 08 de agosto de 1993.
*
CANTOePALAVRAS
Obra Poética, 1970 a 1978 . . .
*
Canta um galo empoleirado
numa nuvem de algodão.
De olhos de charneca rasa
e voz de cravo encarnado,
o Sol vai pelos caminhos
e leva o chapéu ao lado.
Vai com modos de navalha
pelos caminhos do céu.
É-lhe uma fogueira o sangue
e leva ao lado o chapéu.
Numa cruz de sete ventos
onde a esperança se perde
está uma cigana verde
com sete rosas na mão.
Vem o Sol, dá-lhe um braço.
Caem-lhe as rosas no chão.
À sombra de uma oliveira
soa uma flauta de cana.
Caem-lhe no chão as rosas.
Rangem-lhe os folhos da saia.
No desmaio da cigana
a voz da flauta desmaia.
*
ARMINDO RODRIGUES
Obra Poética

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ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO
Nasceu em 28 de Fevereiro de 1800, Lisboa, Portugal.
Poeta, tradutor, advogado pela Universidade de Direito em Coimbra, Portugal.
Cego aos seis anos de idade, causado pela doença de catapora.Sempre quando escreveu 
teve muitas influências tanto Arcádia quanto Romântica.
Traduziu obras de grandes escritores, como Virgílio, Molière, Goethe...
Faleceu em 18 de Julho de 1875.
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CANTOePALAVRAS
As Cartas de Eco a Narciso; Os Ciumes do Bardo; A Noite do Castelo;
Amor e Melancolia; Escavações Poéticas; Outono...
*
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
Já sou mulherinha;
já trago sombreiro;
já tenho treze anos,
que os fiz por janeiro.
-
Já não sou Anita,
sou Ana do oiteiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.
-
Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras,
e olhar sobranceiro.
-
O mineiro é velho;
não quero o mineiro;
mais valem treze anos
que todo o dinheiro.
-
Tampouco me agrada
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.
-
Marido pretendo 
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brigue em terreiro;
-
que em ele assomando
co tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro;
-
Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se inda é solteiro.
 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
-
ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO
Cantilena (trecho)
Os Treze Anos

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ADOLFO CASAIS MONTEIRO
Nasceu em 04 de Julho de 1908, Porto, Portugal.
Poeta, ensaísta, critico...
Faleceu em 24 de Julho de 1972, São Paulo, Brasil.
*
CANTOePALAVRAS
Poemas do Tempo Incerto, 1932; Sempre e Sem Fim, 1937; 
A Poesia de Jules Supervielle, 1938;
Sobre o Romance Contemporâneo, 1940;
Canto da Nossa Agonia, 1943; Noite Aberta aos Quatro Ventos, 1943; 
Versos, 1944; Europa, 1945; Simples Canções da Terra, 1949; 
O Romance e os seus Problemas, 1950;
Voo sem Pássaro Dentro, 1954; Poesias Escolhidas, 1960;
Clareza e Mistério da Crítica, 1961; 
Poesias Completas, 1969....
*
I
Não peçam aos poetas um caminho. O poeta
não sabe nada de geografia
celestial. anda
aos encontrões da realidade
sem acertar o tempo com o espaço.
Os relógios e as fronteiras não têm
tradução na sua língua. Falta-lhe
o amor da convenção em que nas outras
as palavras fingem de certezas.
-
O poeta lê apenas os sinais
da terra. Seus passos cobrem
apenas distâncias de amor e
de presença. Sabe
apenas inúteis palavras de consolo
e mágoa pelo inútil. Conhece
apenas do tempo o já perdido; do amor
a câmara escura sem revelações; do espaço
O silêncio de um voo pairando
em toda a parte.
-
Cego entre as veredas obscuras é ninguém e nada sabe
-morto redivivo.
Tudo é simples para quem
adia sempre o momento
de olhar de frente a ameaça
de quanto não tem resposta.
-
tudo é nada para quem
descreu de si e do mundo
e dos olhos cegos vai dizendo:
Não há o que não entendo.
*
ADOLFO CASAIS MONTEIRO
"Permanência"
*
II
Toco-te, e és verdade.
Mas não serás em breve
um sonho que passou?
-
Agora tua cabeça
pousando no meu ombro
não mente: és bem presente,
passarinho vivo
no meu ramo pousado.
Mas logo voarás
e sumirão no escuro
o ramo mais a árvore...
*
ADOLFO CASAIS MONTEIRO
"Toco-te e és verdade"
Poesias Completas

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