segunda-feira, 4 de maio de 2009

147 - " OS ETERNOS MOMENTOS DE POETAS E PENSADORES DA LINGUA PORTUGUESA "


VITORINO NEMÉSIO
Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva
Nasceu a 19 de dezembro de 1901, signo de sagitário,
em Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores.
Poeta, fundou a revista "Revista de Portugal", e em outras
colaborou. Estudou em Coimbra, mas somente,
Doutorou-se na "Universidade de Lisboa", na
"Faculdade de Letras", Filologia Românica, em 1931, foi professor de
Português, na "Universidade Livre de Bruxelas", Bélgica(1937). . .
Homenagens:
Premio "Nacional da Literatura", Portugal, 1965;
Premio "Montaigne", 1974; Busto, escultor Álvaro Raposo
França, 1994.
Seu corpo, faleceu em 20 de fevereiro de 1978, Lisboa, Portugal.
*
CANTOePALAVRAS
Canto Matinal, 1916; O Poeta Povo, 1917; A Fala das
Quatro Flores, 1920; Amor de Nunca Mais, 1920;
Nave Etérea, 1922;
A Casa Fechada (novelas),1937; La Voyelle Promise, 1935;
O Bicho Harmonioso, 1938; Eu, Comovido a Oeste, 1940;
Mau Tempo no Canal (romance), 1944;
Festa Redonda, 1949; Nem toda a Noite a Vida, 1952;
O Pão e a Culpa, 1955; O Verbo e a Morte, 1959;
O Cavalo Encantado, 1963; ;Ode ao Rio - ABC do Rio de
Janeiro, 1965; O Canto da Véspera, 1966; Limite de Idade, 1972;
Sapateia Açoriana, 1976;. . .
*
I
No campo, aquela sineira
Com seu ninho de cegonha
É a minha vida verdadeira
Que se debica e se envergonha.
-
Na serra, aquela estrelinha
Que apaga e acende o seu sinal
È como a alma que eu lá tinha
Antes de lobo aqui no vale.
-
No vale, uma vela breve
Que espera vento que a arredonde
È como o anjo que já teve
A minha vida, e o resto esconde.
-
Veste o casaco de cinzas, Jerusalém,
Resumida no mal que te povoa!
È, sem versos nem torre, espera "Alguém"
Que viu tudo e que perdoa.
*
VITORINO NEMÉSIO
"Ninho, Estrêla e Vela"
O Pão e a Culpa
*
II
A exatidão serena de uma flor
Aconselha-me em vão
A encher de paz e sem amor
O revolto e impreciso coração.
-
O luz tão verdadeira,
Que dás o verde tenro e o branco puro,
eu dava a vida inteira
Para ser monte ou muro!
-
Mas os homens não valem
Desejos minerais:
Aves, flores, que se calem!
Hei de ser como os mais.
-
Nem florido no orvalho como a rosa,
Nem azul como o monte arredondado.
Ó imaginação, só tu és dolorosa!
O maior mal ainda é o imaginado.
*
VITORINO NEMÉSIO
"Lição de coisas"
*
III
Direi, pela noite, não ódio que tivesse
Nem detestar vida corpórea e ninhos de manhã,
Mas meu alto cansaço, a tristeza de lá
Onde se sente o aqui traído, a falsa entranha.
-
direi - não "fora!" ao mundo  que me cinge
(outro onde o sei e como chegaria?),
Mas dos anos de ver, pensar durando
Retiro uma moeda de nada,
Fruto do meu suor, e pago o pão que se deve,
Compro o silêncio que se me deve
Por ter cumprido a palavra,
Trabalhando nas palavras,
E por elas merecido a terra leve.
*
VITORINO NEMÉSIO
"Requiescat"
Limite de Idade
*
IV
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
-
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esbarroou nos nichos.
-
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
-
A minha casa...Mas é outra a história:
sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
*
VITORINO NEMÉSIO
"A Concha"
Poesia
*
V
De madrugada a neve envidraçou-o.
Seus olhos rasos de um espanto podre,
As águias o mediram pelo voo
E se encheu de silêncio como um odre.
-
Cheirado dos carneiros atrevidos,
Úmido fica já no fio lilás.
Aquilo sim, é que se chama paz,
Ali, à serra e à morte todos ouvidos!
-
Lá vêm as flores da neve à sua cara
E seu rubor perdido copiado
Pelo extenso corar das ervas gordas.
-
Atravessa, atravessa os rolos frios
Do tempo, o nevoeiro, e o passo às hordas,
dourado e podre sob os astros frios.
*
VITORINO NEMÉSIO
"O Pastor Morto"

▬▬
AIRES DE ALMEIDA SANTOS
Nasceu em 1922, Chinguar, Benguela, Província de Bié, Angola, África.
Poeta, jornalista e envolvido com política. . .
Faleceu 1991.
Homenagens: Premio "Nacional de Literatura U.E.A.", 1988
U.E.A(União dos Estados Africanos).
*
CANTOePALAVRAS
A Casa e Meu Amor da Rua 11, 1987 . . .



*
Gosto de estar à janela
a ver
a rever
A chuva que vai caindo
lá fora,
em gotas
pequeninas
Cristalinas . . .
-
E eu espreitando pela vidraça
com gosto,
que gosto
de ver a chuva cair
primeiro devagarinho,
mansinho,
fica no chão a luzir . . .
-
Mas, depois, fica tão feia,
Tão feia, tão feia, tão feia . . .
Fica uma cheia
que corre
e que escorre
Pelas valetas da rua.
-
E eu espreito pela vidraça
-
Tem graça
mesmo assim,
Tão feia,
Tão teia,
Tão feia . . .
Leva tudo quanto encontra.
-
E a rua
fica nua,
- Que eu espreito pela vidraça -
De toda a coisa que é ruim.
-
Só a vidraça
fica baça
de eu me encostar
a espreitar.
*
AIRES DE ALMEIDA SANTOS
" Chuva "
▬▬
CLOTILDE SILVA
Nasceu em 1925, Maputo, Moçambique, África.
Poetisa, jornalista.
*
CANTOePALAVRAS
. . . . . . . . . . . . . . . . . .
*
I
Ah! o silêncio
denso
subtil
e o diálogo
mútuo
constante
inaudivel . . .
-
O silêncio firça
e posse
e a osmose
em plenitude
à densidade
que o contém . . .
-
O silêncio
que ondulado
cinge
e lacerada
embora
a memória.
-
sincroniza e Tempo
à pulsação do Universo!
*
CLOTILDE SILVA
"O Silêncio"
II
Njingiritane¹ gorjeia
na garganta do Tempo.
-
Na memória da infância
balouçada entre seiva e rama a trilar.
-
Njingiritane¹ é cantor . . .
-
na paleta de luz e azul
seu trilo contido
paira, ondula, mergulha
-
e, súbito,
-
fulminante ascende
e esgarça o continente.
-
(não cabe nele, não
a vertigem de seu canto alado).
-
Njingiritane é belo e veloz . . .
-
célere
alastra a curva do horizonte.
-
em voo
a Cor tril
fulge em arco-íris.
-
Pauta alada
jorrando cor e melodia.
-
Njingiritane
-
é África a cantar
à luz do dia.
*
*Njingiritane¹ -Ave do mato Moçambicano.
*
CLOTILDE SILVA
"Njingiritane"
▬▬
LUIZ SILVA
Cuti (pseudónimo)
Nasceu em 1951, Ourinhos, Estado de São Paulo, Brasil.
Poeta, bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo(USP)
E Literatura Brasileira, pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Brasil . . .
*
CANTOePALAVRAS
Criação Crioula, Nu Elefante Branco, 1987;
Poemas de Carapinha, 1978;
Batuque de Tocaia, 1982; Suspensão, 1983 . . .
*
Sou negro
Negro sou sem mas ou reticências
Negro e pronto!
Negro pronto contra o preconceito branco
O relacionamento manco
Negro no meu riso branco
Negro no meu pranto
Negro e pronto!
Beiço pixaim
Abas largas meu nariz
Tudo isso sim
- Negro e pronto!
Batuca em mim
Meu rosto
Belo novo contra o velho belo imposto -
E não me prego em ser preto.
Negro pronto
Contra tudo o que costuma me pintar de sujo
Ou que tenta me pintar de branco
Sim
Negro dentro e fora
Ritmo - Sangue sem regra feita.
Grito - Negro - Força
Contra grades contra forcas
Negro pronto
Negro e pronto
Negro sou!
*
LUIZ SILVA
" Sou Negro "
Poemas da Carapinha





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